|
A revisão do PIB da construção
A confiança dos empresários da construção registrou melhora em setembro, segundo a Sondagem da Construção da FGV. O ICST subiu 0,9 ponto na comparação com agosto, já feito o ajuste sazonal.
A confiança dos empresários da construção registrou melhora em setembro, segundo a Sondagem da Construção da FGV. O ICST subiu 0,9 ponto na comparação com agosto, já feito o ajuste sazonal. Dessa vez, os dois componentes – Índice de Situação Atual (ISA) e Índice de Expectativas (IE) – subiram.
Apesar da alta no mês, desde os acontecimentos de maio, as expectativas empresariais têm oscilado, sem conseguir recuperar o patamar anterior à greve dos caminhoneiros, sinalizando que as incertezas continuam afetando o ânimo dos empresários da construção.
Por outro lado, a percepção em relação aos negócios no momento corrente mantém sua trajetória ascendente. O ISA registra alta há quatros meses consecutivos. Desde o final do ano passado, alguns indicadores passaram a sinalizar melhora da atividade. A confiança dos empresários da construção atingiu em janeiro o melhor patamar desde 2015. A melhora do mercado imobiliário e o crescimento dos investimentos de infraestrutura deveriam contribuir para um desempenho positivo do setor em 2018, encerrando o ciclo anterior de retração. No entanto, o ambiente doméstico foi envolto novamente por uma crise que fez crescer as incertezas em relação à recuperação, reduzindo a confiança: o ICST de setembro é menor que o de janeiro.
Desde maio, as projeções de crescimento para o PIB têm sido revistas continuamente para baixo e, de acordo com o último Boletim Focus do Banco Central, apontam crescimento de 1,39%. Vale lembrar que em janeiro, a maioria dos analistas esperava uma alta de cerca de 2,5% para o PIB em 2018.
O ritmo mais lento da retomada e o cenário político minaram as decisões de investimento. De acordo com a Sondagem de Investimento da FGV realizada em agosto/setembro houve um aumento da incerteza em relação à decisão de investir nos próximos 12 meses.
Assim, a melhora da atividade setorial está ocorrendo por conta de decisões já tomadas no ano passado. O mercado imobiliário tem comandado esse movimento, que de acordo com as últimas pesquisas setoriais – Secovi-SP, Abrainc – está sendo liderado pelo segmento de imóveis voltados para a baixa renda. A Sondagem da Construção mostra que o segmento de Edificações registrou a maior alta do ISA nos últimos 12 meses.
Esse desempenho mais favorável também está se refletindo no mercado de trabalho, que registra entre dezembro de 2017 e julho de 2018 um saldo positivo de contratações de 57 mil trabalhadores. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a taxa acumulada se mantém negativa (- 2,5%).
A despeito dessa evolução mais favorável, a projeção para o PIB foi revista para baixo – passou de um crescimento de 0,5% para uma queda de 0,6%. A revisão deve-se ao ritmo muito lento de melhora, insuficiente para levar a atividade acima do patamar do ano passado.
No entanto, se as expectativas deixaram de melhorar, quais as condições de continuidade desse movimento? Essa questão ainda está para ser respondida.
|
PIB avança 0,2% no segundo trimestre, construção registra queda
O PIB cresceu 0,2% no segundo trimestre frente ao período anterior na série com ajuste sazonal. O PIB da construção, por sua vez, registrou a segunda queda no ano.
O PIB cresceu 0,2% no segundo trimestre frente ao período anterior na série com ajuste sazonal. O PIB da construção, por sua vez, registrou a segunda queda no ano.
Considerando os três grandes setores da economia, a indústria foi a que mais sofreu com a greve de caminhoneiros em maio, tendo apresentado queda de 0,6% na mesma base de comparação. A agropecuária teve crescimento zero. Foi o crescimento de 0,3% do setor de serviços, o maior dos três, quem garantiu o desempenho positivo do PIB. Sob a ótica da demanda, o destaque foi o consumo do governo, que avançou 0,5%, seguido do consumo das famílias, com alta de 0,1%. No comércio exterior, tanto exportação quanto importação registraram queda: 5,5% e 2,1%, respectivamente. Já a formação bruta de capital recuou 1,8%, sempre na comparação dessazonalizada com o trimestre imediatamente anterior.
Dentre os subsetores, os destaques positivos formam atividades imobiliárias e serviços de informação e comunicação, ambos com crescimento de 1,2% na mesma base de comparação. No extremo oposto, as maiores quedas foram registradas nos serviços de transporte (-1,4%) e na indústria de transformação (-0,8%), ambas reflexo da greve de maio. A construção civil também foi afetada, tendo registrado queda de 0,8% frente ao primeiro trimestre.
Na comparação com igual trimestre de 2017, o crescimento global foi de 1%. Já o acumulado nos quatro trimestres encerrados em junho foi de 1,4%. Sob essa ótica de comparação, o desempenho da construção foi o pior dentre os subsetores analisados: queda de 1,1%. O mesmo ocorre no acumulado em quatro trimestres: enquanto o PIB global registrou alta de 1,4%, a construção teve queda de 2,4%.
A despeito da queda na formação de capital na série trimestral dessazonalizada, a taxa de investimento entre abril e junho ficou acima do observado no mesmo período de 2017: 16% contra 15,3%, respectivamente.
Enfim: com os resultados do segundo trimestre e a evolução da conjuntura na sequência da greve dos caminhoneiros, fica claro que 2018 será um ano com crescimento magro e próximo ao já observado em 2017, isto é, pouco superior a 1%.
No que diz respeito à construção, é possível que o resultado volte a ser negativo, refletindo a retração da produção da indústria de materiais e a retomada muito lenta do mercado de trabalho.
|
Materiais pressionam custos
O IGP-M acumula alta de 5,92% no ano até julho e de 8,24% em 12 meses.
O IGP-M acumula alta de 5,92% no ano até julho e de 8,24% em 12 meses. O IPA é o componente com maior destaque no período: com alta de 7,51% no ano e 10,50%, em 12 meses.
Dentro do IGP-M, o custo da construção (INCC-M) mostra uma evolução bem mais favorável, com variação no ano de 2,75% e de 3,93% em 12 meses até julho.
Em agosto, houve desaceleração da taxa mensal que passou de 0,72% para 0,30%. Com esse resultado, o INCC-M em 12 meses caiu para 3,83%. No entanto, o resultado do indicador de custos setoriais reflete uma evolução bastante desigual de seus componentes.
Por um lado, o índice que acompanha o custo da Mão de Obra ficou estável no mês de agosto e registra em 12 meses variação de 1,80%, a menor taxa da série histórica. A desaceleração dos custos com mão de obra é o efeito de uma atividade ainda bastante enfraquecida. Desde janeiro, as contratações realizadas pelas empresas têm superado as demissões, mas ainda em escala insuficiente para recuperar sequer o patamar do ano passado. A Sondagem da Construção da FGV realizada em agosto apontou que a percepção em relação a situação corrente dos negócios tem melhorado muito lentamente. Mas, nos últimos meses houve piora das expectativas, levando junto o indicador de mão de obra prevista.
No que diz respeito aos preços dos materiais, o quadro é bastante distinto. O indicador de Materiais e Equipamentos já acumula elevação de 7,08% em 12 meses até agosto. Itens como vergalhões, cimento e condutores elétricos acumulam variações nos preços de 21,2%, 11,5% e 12,6%, respectivamente.
Vale notar que as vendas da indústria não são direcionadas apenas para as empresas da construção. O comércio varejista de materiais tem crescimento nos últimos dois anos. Em 2018 até junho, o volume de vendas do comércio varejista registra alta de 4,8%. No ano passado, houve crescimento de 9,1%.
|
A cadeia da construção em ritmo lento
O setor da construção é o principal elo da cadeia da construção: de acordo, com as últimas estimativas da FGV Abramat, o setor representa 66% do seu valor adicionado. Assim, sua dinâmica determina também a demanda das outras atividades.
O setor da construção é o principal elo da cadeia da construção: de acordo, com as últimas estimativas da FGV Abramat, o setor representa 66% do seu valor adicionado. Assim, sua dinâmica determina também a demanda das outras atividades
No ano passado, a liberação dos recursos das contas inativas do FGTS ajudou a impulsionar as vendas de materiais de construção no varejo, mas ainda assim a produção da indústria de materiais registrou queda e o PIB da construção fechou com a quarta retração consecutiva.
Em 2018, os sinais são de melhora generalizada. No entanto, a recuperação tem se mostrado muito mais lenta que o previsto no início do ano. Estudo da FGV IBRE mostrou que essa tem sido uma das saídas de recessão para o setor mais lenta dos últimos 70 anos. O último Boletim Macro da FGV IBRE reviu o aumento do PIB setorial para apenas 0,8% em 2018.
As sondagens realizadas com as empresas da cadeia da construção estão refletindo esse cenário: há uma recuperação em curso, mas em ritmo bastante lento.
Em abril, após nove altas consecutivas, o IC – Índice de Confiança da Cadeia de Produção da Construção recuou ao variar -1,3 ponto, na comparação com março, já feito o ajuste sazonal.
O recuou ocorreu em todos os elos, mas por sua participação, as empresas da construção responderam para maior parte do movimento negativo da confiança. O Índice de Confiança da Construção (ICST) registrou queda de 0,1 ponto. O recuo na margem foi resultado da diminuição das expectativas, enquanto o indicador que capta a percepção corrente dos negócios seguiu avançando.
|
Alta em 12 meses do INCC-M é a menor desde dezembro de 2009
Em março, o INCC-M registrou variação de 0,23%, o que representou uma aceleração na comparação com a taxa de fevereiro, de 0,14%.
Em março, o INCC-M registrou variação de 0,23%, o que representou uma aceleração na comparação com a taxa de fevereiro, de 0,14%. Ainda assim, o indicador que acompanha a variação dos custos da construção fechou o primeiro trimestre do ano com 3,47%, o que representou a menor taxa acumulada em 12 meses desde dezembro de 2009, quando o INCC-M alcançou variação de 3,22% na mesma comparação.
A despeito da proximidade dos números, o cenário atual é bem distinto do vivido pelo setor naquele momento. Vale lembrar que em 2009, o PIB setorial registrou alta de 7%. O resultado de 2009 refletiu essencialmente a desoneração da cesta de materiais. O INCC-M materiais e equipamentos registrou deflação, registrando variação de - 1,82%. Em contrapartida, com o crescimento acelerado da atividade e o mercado de trabalho aquecido, o INCC-M mão de obra fechou o ano com alta de 7,62%.
Em 2018, o setor apenas começou a registrar os primeiros sinais de melhora da atividade. O Índice de Confiança da Construção da FGV fechou o primeiro semestre com alta de 3 pontos na comparação com o último trimestre de 2017, mas está quase 20 pontos abaixo do último trimestre de 2013. Assim, a evolução dos custos reflete ainda uma atividade muito abaixo do ponto máximo alcançado em 2013 e um mercado de trabalho que já dispensou cerca de um milhão de trabalhadores com carteira.
|
PIB confirma projeções e fecha 2017 com alta de 1%
O PIB brasileiro do último trimestre de 2017, na comparação dessazonalizada com o período anterior, registrou alta de 0,1%.
O PIB brasileiro do último trimestre de 2017, na comparação dessazonalizada com o período anterior, registrou alta de 0,1%. Com esse resultado, o crescimento no ano confirmou as projeções e atingiu a marca de 1%. Apesar de modesta, essa foi a primeira alta na série anual desde 2015, encerrando o longo período de três anos de recessão.
Considerando o ano de 2017 consolidado, o maior destaque dentre os três grandes setores da economia foi a agropecuária, com avanço de 13%. Indústria e serviços tiveram variação zero e 0,3%, respectivamente. Dentro do segmento industrial houve grandes contrastes. Enquanto a extrativa mineral teve crescimento de 1,7% no ano, em linha com a recuperação do mercado internacional de commodities, e a indústria de transformação avançou 1,7%, a construção civil registrou queda de -5%.
Indicador relevante em termos de perspectivas, a formação bruta de capital teve queda de 1,8% em 2017, fortemente influenciada pelo desempenho da construção civil. Por conta disso, a taxa de investimento, que mede a participação da formação de capital no PIB, passou de 16,1% em 2016 para 15,6% no ano passado, nível mais baixo da série iniciada em 1995.
Vale observar que a construção foi o único segmento industrial a registrar queda no ano passado. Com esse resultado, o setor passou a acumular queda de 20% em quatros anos, o que significou voltar ao patamar de meados de 2009.
|
Investimento cresce no terceiro trimestre
Dados divulgados pelo IBGE apontaram que o PIB brasileiro teve a terceira alta consecutiva na série trimestral dessazonalizada.
Dados divulgados pelo IBGE apontaram que o PIB brasileiro teve a terceira alta consecutiva na série trimestral dessazonalizada. Na comparação com o período imediatamente anterior, o crescimento no terceiro trimestre foi de 0,1%. Já frente a igual período de 2016, a alta foi de 1,4%. Por fim, no acumulado do ano até setembro, a alta do PIB foi de 0,6%.
O consumo das famílias foi destaque na comparação dessazonalizada com o segundo trimestre, tendo se elevado 1,2%, mesma variação observada entre abril e junho nessa base de comparação. Investimento e exportações tiveram variações ainda mais positivas: 1,6% e 4,1%, respectivamente. Já o consumo do governo teve pequeno recuo (-0,2%), enquanto as importações avançaram 6,6%.
Dentre os três grandes setores da economia, somente a agropecuária teve variação negativa (-3%) frente ao trimestre anterior já livre de influências sazonais. Serviços e indústria avançaram: 0,6% e 0,8% respectivamente. Com esses resultados, contribuíram de forma marcante os subsetores indústria de transformação (1,4% na mesma base de comparação) e comércio (1,6%).
Esses elementos revelam um padrão de crescimento da demanda que contrasta com o registrado entre março e junho. A formação de capital voltou a crescer depois de 15 trimestres consecutivos de variações negativas ou nulas. Ao mesmo tempo, as exportações avançaram pela terceira vez seguida na série trimestral dessazonalizada. Porém, acompanhando a retomada da atividade, as importações voltaram a apresentar variação positiva.
Frente ao longo período recessivo, encerrado somente no final do ano passado, compreende-se que a retomada esteja se dando prioritariamente por meio da recuperação do consumo. Grande parte dos setores produtivos permanece em regime de ampla capacidade ociosa e, apesar da forte queda das taxas de juros, o ambiente de incerteza política continua inibindo o investimento.
Ainda assim, é relevante que a economia permaneça em trajetória de recuperação, mesmo que lenta e puxada pelo gasto das famílias. Os efeitos favoráveis, embora de curto prazo, são múltiplos: melhora das expectativas, alta da arrecadação fiscal e progressiva reversão da ociosidade. Mas, no longo prazo, garantir que o investimento continue em elevação é fundamental.
Nesse sentido, vale destacar o contrataste entre os componentes da formação de capital. Muito embora o investimento como um todo tenha avançado na série trimestral dessazonalizada, o PIB da construção civil teve variação zero nessa base de comparação. Com isso, a taxa de investimento atingiu a marca de 16,1%, muito próxima do nível registrado entre abril e junho (16,3%), mas muito abaixo do patamar de 2010, pouco superior a 20%.
Em resumo, o resultado do PIB do terceiro trimestre contém alguns avanços. Todos, porém, ainda modestos e muito limitados a uma dinâmica de recuperação de curto prazo.
|
Expectativas em retrospecto e o legado de 2017
Com a chegada de dezembro, é interessante analisar a evolução das expectativas econômicas ao longo do ano. Isso porque, ao contrário da crença mais comum, expectativas não são sinônimo de previsões, isto é, de uma antevisão de futuro que acreditamos que vai de fato se concretizar.
Com a chegada de dezembro, é interessante analisar a evolução das expectativas econômicas ao longo do ano. Isso porque, ao contrário da crença mais comum, expectativas não são sinônimo de previsões, isto é, de uma antevisão de futuro que acreditamos que vai de fato se concretizar. Expectativas são a melhor aposta quanto ao futuro, condicionada ao que sabemos no presente. Na medida em que o tempo avança, estamos prontos a revisar essa aposta sem nenhum grande drama econômico de consciência.
Pode-se começar pela inflação. Há um ano, em dezembro de 2016, segundo o Boletim Focus, a média das expectativas de mercado apontava para uma alta de pouco menos de 5% no IPCA em 2017. Hoje, sabemos que essa alta vai se situar na casa dos 3%. Em linha com essa projeção, o mercado esperava que a Selic encerrasse 2017 acima de 10%. Hoje sabemos que a Selic deve ficar em 7%. A taxa de câmbio projetada para o final do ano em curso era de R$ 3,45, enquanto que a aposta atual é da ordem de R$ 3,20. Por fim, o mercado apostava que o PIB poderia crescer 0,8%. A projeção atual é de 0,9%, ou seja, muito próxima do que se acreditava há um ano.
Vistos em conjunto, esses dados mostram que houve uma grande vitória contra a inflação, em boa medida graças a uma evolução dos preços dos alimentos bem mais favorável do que o esperado. E o câmbio certamente contribuiu com esse resultado.
Com a inflação abaixo do limite inferior da meta, o Banco Central pôde reduzir os juros de forma segura, sem colocar em risco a lógica da política monetária. Como consequência, o crédito ganhou novo impulso e as despesas financeiras do setor público ficaram menos pressionadas.
Mas essa dinâmica favorável no front monetário não resultou em uma taxa mais vigorosa de crescimento do PIB. O ano de 2017 deve se encerrar com um ritmo fraco de atividade que se expande a passos lentos, liderado pelo consumo e, em menor grau, pelas contas externas. E, como consequência dessa debilidade, apesar do alívio em termos do pagamento de juros, as contas fiscais permanecem combalidas, com alta também muito tímida da arrecadação.
É quase impossível não creditar a frustração em termos de crescimento econômico ao cenário político. A gestão da política econômica ao longo do ano concentrou-se na gestão de curto prazo, enquanto a aprovação de medidas de caráter mais estrutural foi seguidamente dificultada pela fraqueza do Executivo. E, por sua vez, a falta de um ambiente de negócios favorável manteve deprimidos os níveis de investimento, afastando ainda mais o horizonte de recuperação sustentada do crescimento.
Frente a esse quadro, qual deverá ser o legado do ano de 2017?
É certo que a economia irá ingressar no novo ano em condições mais favoráveis. Mas o ritmo de atividade puxado pelo consumo só será benéfico enquanto os setores produtivos estiveram ocupando a capacidade ociosa herdada do longo ciclo recessivo. Sem a melhoria efetiva do ambiente de negócios, o que passa pela melhora do clima político, não há como apostar na aceleração do investimento. Com isso, mesmo que lenta, a progressiva elevação dos níveis de demanda poderá voltar a pressionar a inflação no médio prazo. Em resumo, a transição entre o ciclo recessivo e a efetiva retomada do crescimento sustentado deverá ser mais longa do que seria desejável. E, mais do que longa, estará condicionado à evolução do clima político ao longo do ano eleitoral de 2018.
|
A construção revisitada
Em novembro, o IBGE divulgou as estatísticas referentes às Contas Nacionais de 2015 que representam uma revisão dos resultados das Contas Trimestrais.
Em novembro, o IBGE divulgou as estatísticas referentes às Contas Nacionais de 2015 que representam uma revisão dos resultados das Contas Trimestrais. Os dois sistemas – anual e trimestral - seguem a mesma metodologia mas usam bases diferentes. Os números trimestrais são estimativas feitas com base nas pesquisas mensais, posteriormente revistos, com dois anos de defasagem, a partir dos resultados de pesquisas anuais.
No caso da construção, a revisão incorpora os resultados da Pesquisa Anual da Construção Civil (PAIC), das declarações do Imposto de renda da Pessoa Jurídica e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD).
Com a revisão, o Produto Interno Bruto (PIB) do país somou R$ 5,996 trilhões em 2015 e registrou queda em relação a 2014 de 3,5% - ante taxa de -3,8% divulgada anteriormente. O PIB per capita caiu 4,3% em relação a 2014, e ficou em R$ 29.324.
Pela ótica da oferta, a indústria e os serviços tiveram quedas de 5,8% e de 2,7%, respectivamente, enquanto a agropecuária cresceu 3,3%.
Entre os segmentos da indústria, a construção foi a que apresentou a maior retração, de 9%. O número divulgado preliminarmente era de queda de 6,5% para o setor. O novo resultado não surpreendeu, uma vez que outros indicadores setoriais já tinham apontado uma retração mais severa que a apurada pelas Contas Trimestrais. Em 2015, a produção de materiais registrou queda de 12,5%, o emprego com carteira e a ocupação tiveram redução de 10% e 3,9%, respectivamente. A discrepância entre os resultados das pesquisas de emprego e ocupação sinaliza que em 2015 a crise foi mais intensa na parte empresarial do setor.
De fato, a crise no setor imobiliário e na infraestrutura atingiu fortemente a produção formal. A Pesquisa Anual da Indústria da construção acusou queda de 13,9% no valor adicionado ou PIB das empresas da construção na comparação com 2014. A maior queda foi a da infraestrutura, que nessa mesma comparação teve retração de 25%.
Assim, em 2015, o setor da construção perdeu participação na economia. O Valor adicionado pelo setor alcançou R$ 296 bilhões, o que representou 5,7% do Valor Adicionado total da economia. Em 2014, a construção abrangeu 6,2%. Por sua vez, a produção formal que em 2014 compreendeu 61% do PIB setorial, encolheu para 58%.
Pelo lado da demanda, apenas o setor externo contribuiu positivamente para o PIB de 2015. O consumo das famílias registrou queda de 3,2%, o consumo do governo caiu 1,4% e a formação bruta de capital fixo (FBCF) teve variação de - 13,9%. Com esse resultado, a taxa de investimento alcançou 17,8%.
Enfim, os resultados das Contas Nacionais de 2015 confirmam a recessão vivida pelo país naquele ano e seu impacto no investimento. Os números ainda preliminares de 2016 deverão ser revistos a partir desses novos resultados, mas ainda apontarão o prosseguimento de uma das piores recessões vivida pelo país.
|
Uma Economia Convalescente
Em 2017, o clima de contínua frustração de expectativas está sendo progressivamente revertido.
Em 2017, o clima de contínua frustração de expectativas está sendo progressivamente revertido. Em janeiro, as projeções do Boletim Focus para o PIB eram de expansão de 0,5%. Na edição de 27 de outubro, as expectativas são de alta de 0,7%. Parece pouco. Mas a sensação de estarmos subindo um aclive suave e não mais deslizando ladeira abaixo é relevante. A questão agora é se essa lenta convalescença é uma tendência ou apenas uma oscilação ocasional em meio a um quadro mais crônico.
Em boa medida, a reversão da atividade econômica em 2017 reflete o efeito esperado do ciclo de baixa das taxas de juros. E esta, por sua vez, só se tornou possível diante da queda rápida da inflação.
Assim, com a decisão tomada pelo Copom na reunião do último dia 25, a Selic atingiu um de seus níveis nominais mais baixos de todos os tempos: 7,5% ao ano. Descontada e expectativa de inflação para os próximos meses (pouco mais de 3% segundo o Focus), a taxa real de juros brasileira ainda é alta em termos internacionais, situando-se na casa de 4,3%. Ainda assim, esse também é um dos níveis mais baixos em termos do histórico brasileiro.
Como resultado da queda contínua da Selic nos meses recentes, o volume de crédito tem se expandido. No segmento pessoas físicas, a alta foi de 4,7% nos dozes meses encerrados em setembro. No segmento empresarial, a expansão foi ainda mais intensa: 8,7% na mesma base de comparação. Nesse contexto, as empresas têm acusado o alívio em termos de seus custos financeiros, enquanto as famílias voltam ao consumo. Os dados do IBGE referentes às Contas Nacionais não deixam dúvida sobre a importância do consumo para os dois resultados positivos na série trimestral dessazonalizada do PIB em 2017.
Tecnicamente, o Brasil vive o fim do período recessivo. Mas, até certo ponto, esse é um retrato do passado, ou seja, dos três primeiros trimestres do ano em curso. A questão central se refere às perspectivas para o próximo ano. Em outros termos: o paciente convalescente vai mesmo recuperar plenamente sua saúde?
Infelizmente, não há nenhum elemento no panorama econômico atual que permite uma aposta melhor do que um longo período de recuperação, sujeito ainda a recaídas. Do ponto de vista estritamente econômico, vale destacar o mau momento da formação bruta de capital, condição essencial para qualquer processo sustentado de crescimento. A esse elemento se soma a crônica incerteza política, a qual também está na base dos níveis muito baixos da formação de capital, além de também reduzir as perspectivas de recuperação a curto prazo pelo lado da demanda gerada pelos gastos públicos.
Esses componentes desenham um cenário de uma economia que chegará ao ambiente eleitoral de 2018 ainda muito enfraquecida, seja pelo aspecto conjuntural, isto é, tendo no consumo das famílias o único componente mais dinâmico da demanda agregada, quanto estrutural, ou seja, sem perspectivas claras de recuperação do investimento.
|
|
|
|
|
|
|
|